Alguns membros do clube de leitura «santengracia» de Compostela, escreveram as suas impressões sobre este livro de relatos do Luandino Vieira:
1) Sente-se a música ritmada dos vocábulos num português, já nativo, a cair no texto. A escrita e a paisagem, as duas misturam-se ao adentrarmos o musseque. Este, que as chuvas roubam para levar a Luanda as lamas, tantas, que até tingem de vermelho as águas da Baía, é lar de uma população desfavorecida e entregue à sua própria sorte.
Os três contos, muito bons, mas fico-me com o da Vavó Xíxi e do seu neto Zeca Santos. O pai – o “terrorista” João Ferreira – na prisão, a fome que se instala na cubata e castiga a família. Estamos no musseque, dirigirmo-nos à cubata, é dia de afundar os pés na lama das paredes a escorrer para o chão, antes de se escapar pela porta… Caixotes de fruta velhos, o prego na parede, as pedras da trempe com as latas em cima, a fogueira, a água ferve há muito, só lhe falta o conduto, a fome sem solução à vista, um miúdo e uma velhota, avó e neto, foram eles que o drama veio visitar, desta vez.
Ana da Gama
2) O sentimento que me transmitiu desde o início foi o de ternura: ternura pelo rapazinho esfomeado que prefere comprar a camisa amarela de desenhos
de flores coloridas, antes do que comprar comida; ternura pela vovó que não tem que dar ao seu neto muito, muito magro, e quer enganar-se cozendo indigestas raízes de dálias; pela mocinha que provavelmente está apaixonada e sabe que o seu amor não tem futuro…
Valorizo muito positivamente o papel protagonista das mulheres, boas e menos boas, mas todas lutadoras; e também aprecio que dê voz aos mais miseráveis da
sociedade, aos esfomeados, os aleijados… seres indefesos e marginais que lutam por sobreviver numa sociedade corrompida e injusta, mas que estão dignificados pelos sentimentos: o amor, a amizade, a compaixão…ou a generosidade, essa mesma que faz que Zefa regale o ovo da sua galinha à vizinha grávida.
“De ovo na mão, Bina sorria. O vento veio devagar e, cheio de cuidados e amizades, soprou-lhe o vestido gasto contra o corpo novo”
Ana Mosquera
3) Gostei muito de Luuanda: a tenrura , o fatalismo da vida cotiá , a vida dos musseques…pero costou-me entender muitas vezes as palavras, mesmo com glosssario, o que foi em contra do prazer da leitura.(concordo com a postura a respeito do idioma na p.60)..a gostei da ideia do fatalismo, da fome atávica…recordou-me algum romance indigenista que tinha lido na Faculdade, e sorprendeu-me o tratamento da não solidariedade entre pobres , importa a supervivência, sem dulcificar nada…( roubo do ovo) ou rir-se do aleijado… , o facto de que na vida tudo está escrito: a desesperanza..e o riso, mesmo na velha do primeiro conto que está a morrer de fome, ou riso de vergonha no 2º conto, ou de alegria por burlar a polícia que está a roubar a galinha. Um libro cheio de sentimentos. Um 8..( e não dou mais pela minha incapacidade leitora.),
Sara Paz
4) Sara falou por mim. Subscrevo tudo o que diz, mesmo a qualificaçom, que nom posso sobir porque amargou a minha leitura; bom, mais propriamente, é como um desses livros com excelentes ilustrações mas taão abundantes que tolhem o fio da leitura.
A “Luuanda” é um longo poema impregnada em piedade para a gentinha humilde, incluído o papagaio e a galinha. O cancimbo nevoeiro e o musseque sempre ao fundo. Afinal penso que só não gostamos da crueldade da Inácia.
Os intercalados em angolano têem muito valor eufónico, é como a banda sonora das três histórias corais. Em espanhol acomparam-se-lhe apenas, em piedade e amor pelo país, os contos de “El llano en llamas” de Juan Rulfo: México profundo versus Angola dos museques.
Joam Lopes-Facal