Pega no livro

Clubes de leitura da Galiza com algum livro em português


A Peste da Janice no clube Paco Martín

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No dia 7 de julho, a Pega voou a terras de Bretonha com a Peste da Janice no bico. Foi bem recebida polo Clube de Leitura Paco Martín, com clubistas entre os 8 meses e os 75 anos de idade.

A sessão iniciou-se com algumas palavras em bretonhês, escritas na ortografia internacional do galego. Puxavante, Lhegre ou Alorar fôrom algumas das palavras que aprendemos — quem tenha curiosidade por saber o que elas significam, terá de vir a Bretonha no dia 15 de setembro, para o nosso primeiro encontro de clubes.

A conversa sobre o conto A Peste da Janice enveredou polo tema da discriminação na escola. Falamos das escolas de antigamente e de agora, do Luxemburgo e da Galiza. O Siro surpreendeu-nos com a interpretação mais original do conto: para ele, a amiga da Janice é uma amiga imaginária, uma aliada para enfrentar a adversidade. Ficamos com vontade de reler o conto desde esse novo ponto de vista!

Depois de resolver alguns problemas técnicos, conseguimos ver a curtametragem baseada no conto. A principal conclusão que tiramos foi que a escola do filme tinha um chão exatamente igual ao da escola de Bretonha onde se realizam as reuniões do clube Paco Martim. Só a Pega poderia esclarecer o enigma desta coincidência.

A sessão encerrou-se com vinho do Porto, merenda e algo de música.

O ato tivo o patrocínio da raposinha dos morganços, que deitou lume pola boca para afastar o perigo de barruço.

O jornal El Progreso (edição da Terra Chã) recolheu o evento em notícia publicada no dia 8 de julho.


RESUMOS DOS RELATOS DO LIVRO «LAÇOS DE FAMÍLIA» DE CLARICE LISPECTOR

O livro de relatos da Clarice Lispector «Laços de Família» foi a leitura correspondente à primavera do clube de leitura santengracia. Sandra Freire envia-nos os seguintes resumos dos contos do livro.

“A imitação da rosa”

Laura, personagem protagonista, está a aguardar pelo seu marido para irem ver uma amiga chamada Carlota.

Os pensamentos que Laura tem durante a espera são matéria literária.  Laura pensa sobre as regras que deve cumprir no encontro com a colega, como deve comportar-se, como deve pensar e mesmo como deve sentir. Podemos dizer que na sua forma de pensar há um constante reflexão sobre o seu dever o qual na sua vida trata de cumprir, embora sejam uns deveres contraditórios.

A relação com a amiga, Carlota, deixa-nos ver como é Laura e os seus problemas.  Da amiga Laura pensa que é “original”, não segue as regras necessárias para ser perfeita, ela trata o marido da protagonista de igual.  Aliás a relação com esta colega é pouco conflitiva porque Laura aceita tudo com resignação, no caso da relação com o marido, Laura trata de ser especialmente correcta, no entanto o marido com ela é indiferente e mesmo grosseiro.

No final do conto, Laura tem uma série de pensamentos encontrados sobre se deve ou não dar as rosas que comprara a Carlota.  Laura gosta especialmente das rosas mas estas chegam a incomodá-la porque olhar as rosas faz que ela seja consciente de que as rosas duma realidade que não lhe pertence.  Na história as rosas são símbolo da perfeição e serve para uma comparação com Laura que ante elas vive uma incecisão incómoda sobre se deve ou não dá-las.  Depois deste debate interno que tem sobre as rosas chega o marido que a trata com indiferença e incompreensão.

“Feliz aniversário”

Zilda ocupa-se da celebração do aniversário de sua mãe, uma senhora de oitenta e nove anos.  Ao aniversário acodem irmãos de Zilda, as suas esposas deles e também os filhos destes casais.  No conto assistimos ao interior dos personagens e às conversações.  Em geral podemos perceber uma distinção entre os homens que falam em negçócios e trabalho e as mulheres preocupadas com assuntos da vida.  Olária observa os petiscos, vestidos e dedica-se a cuidar os filhos; Cordélia está triste e ausente e Zilda é a encarregada de servir, preparar a comida.   Ante esta família a personagem que se destaca é a velha (“a mãe de todos”), a senhora pensa e sente de forma negativa por causa dos seus filhos, no final chega a cuspir ao chão.

“A menor mulher do mundo”

um explorador francês atopa na África Central uma mulher de 45 cm de altura, de quem se diz que é a menor mulher do mundo estes dados publicam-se em múltiplos jornais e por esta razão as famílias de distintas partes do mundo fazem valorações sobre esta mulher.  Pequena flor (como chama o explorador a esta mulher) considera-a uma rareza, sente compaixão por ela e está feliz pelo seu encontro.  A mulher que estava grávida também sente algo pelo explorador mas não curiosidade, mas amor.  O amor desta mulher é contraposto ao amor do homem, ela sente um amor que pode ser equivalente a sentimentos agradáveis, como gostar duma camisola, sapatos, etc.  Estes sentimentos agradáveis levam a faze-la rir o que provoca espanto e horror por parte do cientista.

“O jantar”

Um homem come num restaurante enquanto uma primeira pessoa (narrador) o observa.  Nesta refeição o narrador olha como come e bebe, mas também como ao mesmo tempo limpa o rosto de uma lágrima que se mostra na face.  No final da história umas palavras do narrador explicam que não consegue comer por causa de um assassinato.

“Preciosidade”

Uma rapariga adolescente (15 anos) levanta-se todos os dias põe os sapatos de salto que se oem em toda a casa, corre para apanhar o autocarro e depois vai à escola.  A moça vê sempre os esmos homens (os dous motoristas, os rapazes da escola no corredor …) durante o percorrido para chegar ao seu destino.  Um dia concreto ela por acaso levanta-se antes e faz o trajecto em diferente horário este facto faz com que atope dous homens em direcção contrára à sua, isto ocasiona que num momento se vai cruzar.  A menina sofre nesses momentos antes de encontrá-los e tem muito medo, mesmo pensa em fugir para a casa.  No conto vemos que se produz um encontro violento no qual as olhadas são aterradoras e as mãos agarram o seu corpo e finalmente produz-se a violação.  A protagonista vai depois à escola e quando chega a casa diz que não volta pôr sapatos com salto porque quer sentir-se feia.

“Os laços de família”

Neste conto há um encontro entre mãe e filha (Catarina) porque a mais velha visita a casa onde a filha mora com o marido e a sua criança.  Vemos como a filha sente quanto quer a sua mãe e também como a mãe quer a Catarina.  O marido quando Catarina volta da despedida da sua mãe encontra-se lendo o jornal porque ele pensa que “o sábado é seu” enquanto a criança está no quarto.  Catarina num arrebato fora da rutina agarra o filho e vai embora deixando o homem cheio de insegurança e vervoso.  Finalmente, decide que à noite os dous, ele e a esposa, iriam ao cinema.

“Mistério em São Cristovão”

Este conto trata sobre uma família que vivia de forma confortável porque não tinha problemas económicos na actualidade nem outros problemas maiores.  O conto centra-se numa rapariga que, enquanto todos vão para a cama, fica olhando o jardim e cheirando os jacintos duma janela do seu quarto.  Nessa noite tres homens vestem-se com máscaras representando um galo, um touro e um cavalheiro do diabo.  Estes mascarados entram no jardim para roubar os jacintos, mas o galo corta o jacinto maior, canta o galo  e un dos mascarados topa com a olhada da moça facto que faz fugir a todos.  A rapariga que vira tudo resulta afectada fortemente e a família agora com contrariedades deve voltar a ter a serenidade do princípio do conto.

“O crime do professor de matemática”

Um homem enterra un cão em substituição do cão que abandona a família.  O personagem que está a realizar esta acção no cimo de uma montanha vê como os habitantes da cidade vão à missa.  A igreja faz pensar ao homem quanto deja punir o seu pecado de deixar o seu cão abandonado.

“O búfalo”

Mulher fortemente angustiada pelo ódio vai ao Jardim Zoológico onde tenta que os seus sentimentos de ódio e o desejo de matar sejam mais fortes para ela.  No fim do conto encontra com o búfalo que a olha de frente, ela também os seus olhos onde vê a pessoa que produ o ódio.  Na última linha podemos perceber que o búfalo a mata.


BAPTISMO DO CLUBE DE LEITURA SANTENGRACIA

EIS OS PLANOS DO CLUBE SANTENGRACIA PARA CELEBRAR O BAPTISMO DO SEU CLUBE:

Como sabem a igreja de Santa Engrácia fica a lado da Feira da Ladra que opera às terças e aos sábados. Lá podemos dar via livre aos nossos mais baixos instintos consumistas por pouco dinheiro. Podíamos viajar na sexta-feira 12 de outubro que é feriado (mas não em Portugal). Fazíamos uma paradinha para o almoço no Pedro dos Leitões

http://restaurante.pedrodosleitoes.com/default.htm?sess=0003BCED5B458C

Do qual fala o insubstituível dicionário do Mário Prata:

ESPUMANTE

É uma versão mais adocicada da CHAMPANHE. Pelo menos, uma espécie de champanhe. O maitre do restaurante Gambrinus lhe explica melhor, enquanto você come umas ostras frescas no balcão. A Raposeira é o Espumante mais famoso. E atenção: indo a Portugal não se pode deixar de comer O FAMOSO LEITÃO DO PEDRO DOS LEITÕES, NA MEALHADA, NA ESTRADA ENTRE PORTO E LISBOA. É o melhor leitão do mundo. E a tradiçào pede que se acompanhe com Espumante.

O baptismo seria na igreja homónima (do nosso clube), depois do shopping.

Nesta terça-feira  (17 de Julho)vou ir à feira da Ladra e vou tentar combinar com algum sacristão ateu (quase todos o são, eles sabem o que há lá dentro) para tentar organizar algum ato solene no 13 sábado de outubro nos muros traseiros da Igreja de Santa Engrácia, onde ele exerceria de ministro (tem que fazer-lhe ilusão, sempre atuou de secundário). O baptismo seria com vinho e a concha seria uma vieira compostelã. As salmodias ficariam a carrego do próprio ministro (o sacristão) com a única condição de que fossem rezadas, ou cantadas,  em latim. O sacristão teria direito a partilhar o nosso ágape de sardinhas e vinho, além da propina que fosse previamente pactuada.

A celebração podia ser mesmo no Tavares, fronte à estátua de Pessoa. Também o Mário Prata fala neste restaurante:

DIETA

É bom deixar claro que Dieta é mesmo um REGIME. Mas, o que importa aqui, é que Regime não significa, nem nunca significará, Dieta. Regime refere-se a Regime Militar, Regime Religioso, etc. Se você faz dieta, não vá jantar no TAVARES, A MELHOR COMIDA DE LISBOA. LUGAR LINDÍSSIMO, COM MAIS DE DUZENTOS ANOS.

Tem um pequeno problema e é que não baixa de 60 EUR por pessoa, mas postos a sonhar…

O mesmo Mário Prata oferece-nos outra dica:

AÇORDA

É uma papa, quase uma sopa, de pão amassado com água e alho, que pode ser de camarão, mariscos, etc… Uma delícia, uma tradição. O aspecto não é nada agradável, mas… Tem até um restaurante excelente chamado PAPAÇORDA, NO BAIRRO ALTO, EM LISBOA.

Onde há mais coisas que açordas e bem boas. Mas também não é assim tão barato. Se calhar o mais enxebre, estando no coração da Alfama, seria pedir umas boas sardinhas assadas com uns copos de vinho verde fresquinho. Muito português, muito lisboeta e muito barato. Aqui é onde partilharíamos mesa e toalha com o sacristão.

Depois do café e a Amarguinha podíamos pegar nos carros e irmos ao Porto, dar um passeio pela Ribeira e ir jantar ao

Restaurante Casa do Pescador (São Pedro da Afurada)

Onde servem um fantástico arroz de tamboril e todo o tipo de peixes pescados no mesmo dia.

Bem, o programa é ambicioso mas temos tempo para ir poupando dinheiro.

Vão dando ideias alternativas a estas que, mesmo que nenhuma acabe sendo realidade, que nos quitem o fantasiado!

Já agora, se alguém de outro clube de leitura da federação da Pega quiser acompanhar-nos será bem-vindo!

Carlos Campoi-Vasques

 


Laços de família

Hoje fala para nós, a filóloga Sandra Freire, uma das incorporações mais recentes do Clube de leitura santengracia. Ela vai dirigir nestas linhas a nossa leitura de Laços de Família.

O seu texto diz assim:
“Uma reflexão crítica de Laços de família

O livro que tratamos esta sexta-feira no clube de leitura “Santa Engrácia” foi para os assistentes um livro que tem como protagonista a mulher.
A personagem feminina deixa de ser vista, como foi na tradição literária, segundo umas características físicas e morais prototípicas. Na obra de Clarice Lispector trata-se a mulher de forma mais profunda como um ser complexo, com contradições, sentimentos, ações, pensamentos, …


Em geral, em todos os contos podemos assinalar exemplos das ações e pensamentos da protagonista que não se ajustam ao papel dado à mulher. Nestes relatos a personagem tem comportamentos que não obedecem a regras morais tradicionalmente aceitáveis, coloquemos como exemplo dois textos: “Devaneio e embriaguez duma rapariga” ou “Amor”, nestes relatos a mulher realiza factos, deixa de parte as obrigações como esposa e mãe para fazer caso aos seus sentimentos e gostos individuais.


Acedemos portanto à mente da mulher e ao seu quotidiano para fazer-nos ficar com a ideia dos seus problemas e preocupações. Nesse viver das mulheres quotidiano não está fora o homem, de facto o homem e seu papel de indiferença, desprezo ou mesmo violência afetam de forma visível à vida da mulher. São múltiplos os exemplos que mostram como afeta o comportamento dos homens a elas tanto de forma física em “Preciosidade” conta-se um caso de violação, noutros casos de forma mais psicológica, por exemplo em “Mistério de São Cristóvão” quando um mascarado acede ao espaço de uma rapariga e da sua família.
Como conclusão podemos dizer que no livro há uma crítica ao papel dado às mulheres como domésticas encarregadas de limpar e servir em casa, acompanhar ao homem fora, sem momentos de distração. Podemos dar um exemplo em “Laços de família” ele é quem toma as decisões pelos dois, o homem reflexiona no fim do conto que esse sábado iriam ao cinema.
O mundo que é apresentado no livro foge do artifício, quiçá para mostrar de forma natural o dia a dia de uma mulher que ainda hoje em dia, cinquenta anos depois não nos é alheio”.

Estão com vontade de ler o livro? carreguem nesta ligação: ClariceLispector-LaçosdeFamília

Sandra, muito obrigada por nos descobrir tanta coisa boa.


Fé de baptismo com Clarice ao fundo

João Lopes Facal (Clube Santengrácia, Compostela)

No dia vinte oito de Junho do 2008, vésperas da cimeira europeia e do transcendental partido final da euro-taça 2012 (não confundir com as euro taxas que é assunto um bocado mais delicado). Dois acontecimentos coincidentes em fim que marcaram os destinos da Espanha, foi o dia eleito pelo nosso clube de leitura em português para proceder ao seu baptismo. O clube ficava sem baptizar e os/as camaradas mais sensíveis clamavam por formalizar sem demora o sacramento. O trâmite do baptismo estava decerto um pouco atrasado, visto sermos, ou sentirmo-nos, um bocado precursores da leitura comunitária em língua portuguesa.

A modesta cerimónia teve lugar finalmente na sala de leitura da EOI de Santiago onde costumamos reunir-nos ultimamente. Estavam lá a Olaia –que véu a propósito da Corunha- a Láli, a Naza e a Sandra, o João, o Antão e também o capitão Campoi que véu de bicicleta como costuma. O resto faltava pelos contratempos da vida e da profissão ou pelo que for, que às vezes a gente não informa.

A responsabilidade do acto, várias vezes adiado, não admitia demora. Vínhamos reunindo-nos em forma intermitente quase desde o ano 2009 em que rematamos o nosso curso de português na EOI compostelana e corríamos grave risco de cair no inferno do anonimato, uma eventualidade imperdoável em cidade tão pródiga em baptistérios como a cidade do Santo Apóstolo amigo.

Quero adiantar que o nome finalmente elegido foi clube santengrácia, pela Santa Engrácia de Lisboa lá perto do Mercado da Ladra. O nome fora proposto por Ana Diaz que casualmente não estava presente no acto ainda que sim em coração como madrinha do evento. Há nomes com destino, nomes que não se esquecem, este é um e por isso foi eleito por maioria ampla a duas voltas, como na França.

Bom a expressão popular “é como as obras de Santa Engrácia...” serve para designar “aquilo que não tem fim” como sabe tudo português de raça e nação entre os que nos contámos. A designação não é sem motivo. A basílica lisboeta onde repousa Amália Rodrigues e algum outra figura menor como algum presidente da República, pelo que posso lembrar, foi promovida pela Infanta D. Maria, filha de Manuel I de Portugal no ano 1568, recomeçada em 1682, depois do temporal do ano anterior que deu com ela na ruína, e felizmente rematada 284 anos depois, em 1966. Não cumpriu os trezentos anos em obras porque Santo António não quis.

Fala-se da paciência chinesa, a dos portugueses não lhe vai muito atrás e por dizê-lo tudo, tampouco a dos espanhóis: aí estão “las obras del Escorial”. Os galegos não devemos por isso considerar-nos a menos. É verdade que temos perdido bastante tempo em reformas na Torre de Hércules, que vêm da antes do romanos, e na própria Catedral de Santiago que não colhia jeito, mas estas são histórias velhas que já ninguém lembra. A nossa obra no concurso de santengrácias que no mundo há é a Cidade da Cultura Fraga Iribarne, digna dos modelos anteriores e que confirma com certeza irrefutável que Galiza é também uma nação, digam o que disserem os espanhóis. Também não é sem motivo, obras de Santa Engrácia propriamente só fazem os estados imperiais e ai estamos também nós: o espanhol, o português e Fraga Iribarne.

Bem baptizado ficou o nosso clube e ponto. Algum companheiro avançou mesmo a semiótica do assunto: ler em português é trabalho de uma vida inteira. Ficamos a pensar um bocado.

Que ninguém tire a falsa sensação de que no clube faltaram ideias onomásticas, há muita experiência acumulada na nossa turma da EOI. Somos todos, por dizê-lo em breve gente de vocação tardia. As denominações descartadas foram numerosas e algumas mesmo brilhantes. Alguém propôs oovodapega como testemunho inequívoco de filiação com a rede galega de leitura A Pega no Livro. Outra ideia ia para o campo tecno: scq0509, repare-se no ar um tanto aeroportuário da denominação onde não faltava a referência aos anos que demarcam o curso da EOI onde tudo começou. Duas proposições mereceram também muita atenção pelo o espírito galego-com-certeza que as animava. Uma foi miúdograúdo que une duas das mais formosas palavras do idioma que nos irmana ao tempo que alude à índole das nossas escolhas de leitura: desde o simples conto –Civilização do Eça de Queiroz, por exemplo- até…bom até esse livro de leitura demorada e inesquecível como ainda temos de ler. Outra foi, falabarato, palavra muito especial e mesmo imprescindível para galegos e portugueses mas, um bocado excêntrica para brasileiros que preferem tagarela. Eles verão, eu não comparo. Ficava ainda bondelétrico, que une as duas maneiras de designar o veículo de tracção elétrica que galga pelas encostas lisboetas por brasileiros e portugueses, a maneira de prenda de amor partilhado dos aderentes do santengrácia à língua de Machado de Assis e de Eça. Não foi possível tanto nome, já foram passados os tempos de pôr muito nome às criancinhas. Estamos em crise, pelo menos na Galiza e em Portugal.

Esquecia o mais importante. O objecto da leitura no dia do baptismo privado do nosso clube -o baptismo solene está à espera de convocatória oportuna e lugar de celebração condigno, ha ideias- foi Laços de Família de Clarice Lispector. Uma imersão potente e inquietante no fundo labiríntico e dolorido do coração feminino. Santengrácia recomenda vivamente a sua leitura, A Clarice é já aderente honorária, além de testemunha muda do memorável evento.

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Escritor invitado: Pablo García autor de “Relato dun estalido xordo”

Esta vez a juntança de escrita do nosso clube foi dedicada a falar com um autor nóvel, Pablo García, que aparece nessa mínima foto.

Foi premio Biblos com o romance “Relato dun estalido xordo” e gostabamos de que nos contara a sua experiência, e muito amablemente pela sua parte ofereçeu-se para esse evento.

Não tomamos nota, pois estivemos a falar, canhas na mão, mas sim levavamos um cuestionário que pode representar um breve resumo do tratado, pois relamente estivemos duas horas a falar.

  • Quanto tempo che levou escrever a primeira versão? Mes e meio com o  cu sem descolar da cadeira.
  • Tens tempo e vontade de escrever outro romance? Sim, de feito tenho  escrito um livro de relatos esperando a ser editado.
  • Que tal a experiência com o teu titor Manuel Rivas? Muito boa, o processo foi uma negociação onde ambos os dois tinhamos que ceder.
  • Quantos exemplares vendeste? Não vo-lo sei, foi uma edição de 1200 exemplares.
  • Tens retroalimentação? A gente diz-che se gostam dela? não, de momento ninguém me fiz comentârio (agás o  clube Lendo lendas)
  • Pensaste em traduzi-la a outras linguas: castelhano, inglês, português? a edição desse prêmio já se faz em dois idiomas, castelhano e galego, livros que aparecem na mesilha de noite de diversos hotéis colavoradores. A outras linguas sería um processo laboriosso
  • Qual pensas que  é o caminho para um escritor galego, os concursos ou percorrer as editoriais? depende
  • O teu livro favorito? “Xente ao lonxe” e “A peste”

E mais nada. Comentar que participa num blogue de literatura “http://www.letraenobras.com/”

saudações

o andré