Pega no livro

Clubes de leitura da Galiza com algum livro em português


JOÃO TORDO – Biografia involuntária dos amantes

ANA DA GAMA, do clube de leitura «santengracia» de Compostela, fez a seguinte crítica do livro de João Tordo que estivemos a ler durante o verão:

Biografia Involuntária dos Amantes

A sinopse augura que a tragédia que alcança primeiro um, depois outro amante, será também a do narrador, num prometido processo osmótico cujo fio condutor se vai afinal esbatendo ao longo do romance, acabando por desaparecer na trama sem se cumprir a ameaça. Os esforços envidados para que a tensão narrativa evolua em crescendo acabam numa dissociação do enredo, de tal forma que o narrador desiste de explorar a via secundária – a que lhe diz respeito – e, de repente, as grandes fontes de tensão na sua vida – a rebeldia da filha, o provincianismo do namorado dela – resolvem-se pacificamente. Nem mesmo a solidão de que padece o professor chega a tingir-se de drama, como se o autor receasse tecer demasiados fios em simultâneo.

Ficam Teresa e Miguel, cujas personagens atingem estaturas épicas de composição, neste melodrama de faca e alguidar. Coerentes de princípio ao fim, ambos surpreendidos pela desgraça de amores destrutivos, qual fado impossível de contrariar, não fosse a morte de Teresa e o surto psicótico de Miguel, e o longo estado catatónico que se lhe seguiu, virem libertá-los.

Um recurso pobre é o do Tom-Tom literário, em que se multiplicam as indicações de “virar à esquerda”, “virar à direita”, “seguir em frente”, com o objectivo único de asseverar ao leitor que o autor fez pesquisa in loco. Não era necessário, não acrescenta nada à trama, e o livro não tem a categoria de testamento, para que os leitores se sintam compelidos a refazer os trajectos. Notam-se vários erros de revisão: Bríon, Benxámin…

Este é o sétimo livro de João Tordo. O escritor, obviamente, domina a técnica; seria demais pedir-lhe que o fizera talentosamente?

Ana da Gama

Clube de leitura santengrácia
26 de Setembro de 2014


Neighbours, em Tuga-Lugo-Lendo

No passado dia 20, o clube Tuga-lugo-lendo dedicou o encontro a conversar sobre o romance Neighbours, da moçambicana Lília Momplé. As impressões após a leitura foram muito positivas e durante a reunião foram destacados diversos aspetos que a maioria achou interessantes como o pormenorizado retrato das mulheres, que sofrem as ações políticas protagonizadas pelos homens, as suas infidelidades e a guerra. No meio desta situação, algumas personagens femininas tentam mudar o seu papel na sociedade; há casais infelizes mas também felizes, embora o final do livro possa vir a contradizer esta divisão aparentemente clara; há quem coma só upswa e repolho, mas há também quem tenha (licita ou ilicitamente) para comprar todo o tipo de alimentos. Igualmente vieram ao de cima as referências a factos históricos como a libertação nacional moçambicana, a posterior guerra civil e a pressão do regime do apartheid dos vizinhos sul-africanos (dos neighbours) contra a presença de membros do ANC em território moçambicano.

No fim da sessão, aproveitou-se também para decidir as próximas leituras, que serão a banda desenhada A pior banda do mundo (volume 1), de José Carlos Fernandes, e O centauro no jardim, do escritor brasileiro Moacyr Scliar.

(Iago, do Tuga-Lugo-Lendo, escreveu o texto. Muito obrigado a ele pelo contributo. E à Marta pela linda fotografia em baixo)

Vemo-nos a 22 de novembro! Até lá, boa leitura!

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Rakushisha, de Adriana Lisboa

Duas personagens, uma ocidental e um oriental ocidentalizado, conhecem-se por um acaso e, por um enlevo, decidem partilhar uma viajem para o Japão. Os dois precisam de recompor as suas vidas, que desde esse dia transcorrem em paralelo, sem chegar a juntar-se embora haja iminentes aproximações.

O relato vai entremeado com haikus de Basho e passagens da vida dele, como um substrato que norteia as travessias dos protagonistas pelo oceano do desassossego, narradas pela autora com esquisita delicadeza, o que faz um texto adorável,

Mukai Kyorai, discípulo de Basho tinha cerca de 40 pés de caqui no jardim de sua cabana. Uma tempestade destruiu a plantação à véspera do dia da colheita e, desse dia em diante, Kyorai passou a chamar sua casa de Rakushisha, ou a Cabana dos Cáquis Caídos, o último dos lugares onde o viajante Basho se hospedou.” 

Antom

rakushisha