ANA DA GAMA, do clube de leitura «santengracia» de Compostela, fez a seguinte crítica do livro de João Tordo que estivemos a ler durante o verão:
A sinopse augura que a tragédia que alcança primeiro um, depois outro amante, será também a do narrador, num prometido processo osmótico cujo fio condutor se vai afinal esbatendo ao longo do romance, acabando por desaparecer na trama sem se cumprir a ameaça. Os esforços envidados para que a tensão narrativa evolua em crescendo acabam numa dissociação do enredo, de tal forma que o narrador desiste de explorar a via secundária – a que lhe diz respeito – e, de repente, as grandes fontes de tensão na sua vida – a rebeldia da filha, o provincianismo do namorado dela – resolvem-se pacificamente. Nem mesmo a solidão de que padece o professor chega a tingir-se de drama, como se o autor receasse tecer demasiados fios em simultâneo.
Ficam Teresa e Miguel, cujas personagens atingem estaturas épicas de composição, neste melodrama de faca e alguidar. Coerentes de princípio ao fim, ambos surpreendidos pela desgraça de amores destrutivos, qual fado impossível de contrariar, não fosse a morte de Teresa e o surto psicótico de Miguel, e o longo estado catatónico que se lhe seguiu, virem libertá-los.
Um recurso pobre é o do Tom-Tom literário, em que se multiplicam as indicações de “virar à esquerda”, “virar à direita”, “seguir em frente”, com o objectivo único de asseverar ao leitor que o autor fez pesquisa in loco. Não era necessário, não acrescenta nada à trama, e o livro não tem a categoria de testamento, para que os leitores se sintam compelidos a refazer os trajectos. Notam-se vários erros de revisão: Bríon, Benxámin…
Este é o sétimo livro de João Tordo. O escritor, obviamente, domina a técnica; seria demais pedir-lhe que o fizera talentosamente?
Ana da Gama
Clube de leitura santengrácia
26 de Setembro de 2014
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