(Comentário de Marité no clube Lendo lendas.
Quando a garota protagonista, Vanja , tem 13 anos “época de mutação”, vai desde o Rio de Janeiro para os Estados Unidos à procura de seu pai.
Sabe que lá onde vai, faz frio e, para imaginar as temperaturas abaixo de zero, abre o congelador.
Em Lakewood, no Colorado, tem saudades de Copacabana.
Até esse momento ela morava com Elisa, uma irmã de criança da sua mãe, depois que ela morrera.
A sua mãe contara tudo a Vanja sobre a pequena historia da vida da menina.
É por isso que ela sabe que Fernando, o ex marido da sua mãe, morava lá em Denver e , a través dele, quer encontrar o seu pai.
Compara Lakewood com Copacabana: o primeiro é um lugar estranho, árido e pouco verde.
Sente-se estranha “marcando meu território num território que não era meu”. A primeira impressão que tem daquela planície é “chata, sem graça”.
Vanja já aprendera inglês e espanhol com a mãe , ademais do brasileiro.
A sua mãe gostava de romper relações com os homens, com os lugares. Arranjara uma casinha em Albuquerque e Vanja nascera ali. Ali morou até os 2 anos. Mas não tem memórias disso . Ela considera ter nascido aos 2 anos em Copacabana: um mundo de conchas AZUL CORVO.
“Sempre achei cômoda a posição de estar em busca daquilo que não se vai encontrar”.
A mãe dava aulas de línguas tanto em Albuquerque como no Rio. Ela tornou-se nacionalista e dizia que o português aumentaria sua esfera de influência. Uma defensora das coisas pátrias . Entre elas, a língua herdada do colonizador europeu. Ela considerava o português a língua mais bonita do mundo.
Eram os anos 90 e ela ganhava menos no Brasil, mesmo sendo trilíngüe. Não podia pagar viagens aos Estados Unidos . É por isso que nas férias viajavam sempre para a Barra do Jucu, num Fiat 147, sete horas de viagem escutando Janis Joplin. A mãe teve ali dois namorados . Um deles começou a ensinar Vanja a surfar. A menina era “violentamente ” feliz.
Nos Estados Unidos morava Vanja em casa de Fernando. Ela não tinha família: os avôs tinham também morto .
As pessoas centrais da vida de Vanja eram agora periféricas:
– a tia de criança da sua mãe, no Rio
– o ex marido da Suzana, no Colorado
Ela tinha uma dupla vida, era um “produto latino”
A Suzana tinha trinta anos mais do que Vanja, pela altura, uma garota de 11 anos a quem a mãe tinha contado tudo á sua filha.
Com doze anos, Vanja perdeu a mãe. Depois disso, nada foi como antes. Ela não queria ter pena de si, nem quando ouvia “coitadinha”, “pobrezinha”.
Foi morar com a Elisa. Ela entendeu quando Vanja disse que queria telefonar para Fernando , o ex marido da sua mãe. Um homem duns cinquenta anos que morava em Lakewwood e trabalhava na Biblioteca Pública. Ele não interatuava muito com a Humanidade. Muito diferente da Suzana, que gostava de festas e pessoas. “Como era possível que tivesse-se interessado por aquele cara”?
Oficialmente era seu pai e seu guardião. Ele registrou Vanja como sua filha.
“Depois de passar tempo demais longe de casa, pertence aos dois lugares , não exatamente a nenhum deles”
Fala de diglósia , duas línguas A e B . “Você é algo híbrido e impuro”. A casa não estava em parte alguma. Vanja lia “ferozmente”.
A mãe e Fernando conheceram-se num bar em Londres onde ele trabalhava depois dum passado guerrilheiro na Amazônia. Ela ia com o namorado americano. Fernando e Suzana reconheceram o seu sotaque brasileiro e lá começou tudo: ele foi para os Estados Unidos detrás dela.
O pai dela chama-se Daniel e isso tornou-se para Vanja uma busca ao tesouro. A través de June , amiga de Suzana, Fernando localiza a mãe de Daniel, uma artista chamada Florence. June tinha mais de dez anos sem ver a Daniel.
Um dia a menina pergunta a Fernando:
– Você é o que meu?
– O que você quiser que eu seja.
Numa nevarada caída em Lakewood, Fernando apareceu com o trenó vermelho de plástico para Vanja. Também lhe tinha oferecido quando chegou em casa dele uma sacola com uns chinelos: em casa havia de tirar o sapato.
Em Santa Fê juntaram-se Fernando, June, Vanja e o pequeno Carlos o menino de El Salvador, vezinho de Fernando, que morava com os pais e estava obsesionado porque era um “sin papeles” muito amigo de Vanja.
Formavam “uma família improvável” de 4 membros.
Vanja pergunta-se “se um belo dia você acorda gostando de sexo, política e bebidas alcoólicas”.
O cheirinho do que fumavam June e Fernando traz lembranças da mãe : “Fui ao banheiro e chorei”.
Encontro com a avô Florence. Ela disse que seu filho morava em Abidjam, depois de seis anos.
“Senti uma raiva colossal, senti raiva de minha mãe por ter morrido. Senti vontade de gritar”.
Encontro com Isabel, a aluna de inglês de Suzana. Acabou ficando amiga quando era uma garota recém-chegada de Porto Rico
“Seus cabelos azul corvo, azul-concha, conchas azul-corvo, corvos azul-concha”
Quando Vanja fez catorze anos voltou ao Rio para visitar Elisa.
7 anos passaram desde o começo do romance.
“Faz pouco mais de um ano que enterrei Fernando” “Sem guerrilhas, sem esposas, sem amantes”.
Os pais do Carlos foram para a Flórida.
Carlos veio morar com Vanja porque ele havia prometido não sair do Colorado e não sair de perto dela. Já ele tem dezoito anos. Gosta das montanhas e é íntimo da terra.
Nick “beijou-me uma vez numa festa”
Vanja foi a Abidjam visitar o pai e a sua família. Vanja acha que “nem saudades tinha da Suzana”.
Daniel esteve nos Estados Unidos no ano passado, numa viagem de trabalho. “De tempos em tempos nos falamos por telefone”
Vanja trabalha na Biblioteca pública de Denver. Vendeu o carro de Fernando, um SAAB 1985 e comprou um quinze anos mais novo
“As pessoas já não ouvem sotaque quando falo”
VANJA
- Madurez prematura pela morte da mae
- Necessidade de afecto e chamada do “sangue” para buscar suas origens
- Menina decidida e corajosa.
- As pessoas mais perto dela não são família; Elisa, que passa por sua tia, Fernando que passa por seu pai, Carlos, garoto imigrante como ela
- A avô Florence e o pai, finalmente encontrado, não parecem colmar o afecto e o carinho que ela busca
- Uma vida marcada pelas perdas: da mãe, do Brasil, de Fernando
- Uma marcada pela busca: das pegadas da mãe em Estados Unidos, das amizades dela para achar Daniel, seu pai
- Saudades do clima, da paisagem, das cores, da luz do Rio, de Copacabana
- Não gosta do Colorado, “não há nada”, de Denver, nem de Lakewood. Mas é ali que ela vai ficar “marcando território num território que não era meu”
- Acha que é uma “planície chata, sem graça”, com menos gente que no Brasil, aridez desértica pouco acolhedora
- Sente-se estranha na terra onde tinha nascido mas que deixou com a mãe aos dois anos.
FERNANDO
- É o homem que fez de pai de Vanja. “Eu sou o que você quer que seja”
- Ex guerrilheiro nos anos 70 no rio Araguaia
- Militante do PC do Brasil
- Carinho para Vanja, proteção e ajuda na busca de Daniel
TEMPO
A protagonista conta em primeira pessoa o que passou em sua vida entre os 13 anos em que foi para os Estados Unidos e sete anos depois quando finaliza o livro.
Há lembranças que a mãe lhe tinha contado, anteriores ao seu nascimento em 1970.
Fala da guerrilha em finais dos 60.
ESPAÇO
Brasil – Rio – Copacabana
Colorado – Denver – Lakewood
São os lugares onde ela mora
Albuquerque: ali nascera mas ela não tem lembranças
Novo México: em busca da família do pai
Abidjam: onde mora o pai
ESTRUTURA DO ROMANCE
É a história da vida da menina Vanja, quando ela perde sua mãe e decide reorganizar sua vidinha buscando as origens na pessoa do pai biológico. Um pai que não conhece e é apenas contactando com as amizades dos Estados Unidos da mãe que ela consegue localizá-lo.
O presente aparece incrustado pelo passado em todo momento: a história de Fernando, Chico, o ex guerrilheiro, a vida da Suzana, anterior ao nascimento da filha.
Em mais de um capítulo fala do título AZUL CORVO: azul concha, corvos azul – concha, conchas azul – corvo.
Dois mundos, dois espaços, dois tempos sempre superpostos.
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