Niketche é uma dança de amor.
Estamos no Moçambique post-colonial. As influências cristiás mestúranse coas islámicas mas, sobre tudo, coas tradições africanas.
Porém, Moçambique existe como país porque existiu como colônia. A autora não declara assim, mas mostra que o Norte e o Sul são dois mundos diferêntes, e cada é uma amálgama de etnias com seus ritos e crenças: macua, tsonga, machangana, maconde, nyanja, ronga, sena, shona…
Niketche é uma dança de amor nas regiões de Zambézia e Nampala, no norte onde as mulheres inicíanse aquando raparigas muito novas para seducir e maravilhar os amantes, início que inclui até o alongamento dos genitais.
No sul a mulher fica mais submetida, presa à cinta, sob a responsabilidade da ordem no casal e a dedicação aos filhos. Quando dificultades com o marido fazem prezes ou tentam feitiços de bruxaria.
A Rami é uma mulher do sul, casada com um homem que practica a poligamia convicto de que tem direito a facê-lo. “Niketche” é uma historia de amor e rebeldia, de libertação. Mas não assim uma história heróica: não sucedem fazanhas célebres, gloriosas, épicas. É a loita íntima da Rami, com o coração, cheia de derrotas e resignações. No caminho encontra jeito de mudar rivalidades em alianças e sucedem pequeninas vitórias que fazem permissão de avançar, nunca sem sofremento.
A autora escreve com muita duzura criando, entre frequêntes diálogos, parágrafos de reflexão duma formosura imensa. Através dos conflitos das personagens, e das suas relacións e contradicções com o entorno histórico-social, vira transparentes suas almas.
Se calhar é um bocado reiterativa e pelo medio pode resultar cansativa. Mas também não se rendam: virão acontecer coisas surpresivas que darão novo vigor ao relato.
Recomendo com encarecimento. Antom Labranha.
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