Pega no livro

Clubes de leitura da Galiza com algum livro em português


Niketche. Uma história de poligamia (Paulina Chizane)

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Niketche é uma dança de amor.

Estamos no Moçambique post-colonial. As influências cristiás mestúranse coas islámicas mas, sobre tudo, coas tradições africanas.

Porém, Moçambique existe como país porque existiu como colônia. A autora não declara assim, mas mostra que o Norte e o Sul são dois mundos diferêntes, e cada é uma amálgama de etnias com seus ritos e crenças: macua, tsonga, machangana, maconde, nyanja, ronga, sena, shona…

Niketche é uma dança de amor nas regiões de Zambézia e Nampala, no norte onde as mulheres inicíanse aquando raparigas muito novas para seducir e maravilhar os amantes, início que inclui até o alongamento dos genitais.

No sul a mulher fica mais submetida, presa à cinta, sob a responsabilidade da ordem no casal e a dedicação aos filhos. Quando dificultades com o marido fazem prezes ou tentam feitiços de bruxaria.

A Rami é uma mulher do sul, casada com um homem que practica a poligamia convicto de que tem direito a facê-lo. “Niketche” é uma historia de amor e rebeldia, de libertação. Mas não assim uma história heróica: não sucedem fazanhas célebres, gloriosas, épicas. É a loita íntima da Rami, com o coração, cheia de derrotas e resignações. No caminho encontra jeito de mudar rivalidades em alianças e sucedem pequeninas vitórias que  fazem permissão de avançar, nunca sem sofremento.

A autora escreve com muita duzura criando, entre frequêntes diálogos, parágrafos de reflexão duma formosura imensa. Através dos conflitos das personagens, e das suas relacións e contradicções com o entorno histórico-social, vira transparentes suas almas.

Se calhar é um bocado reiterativa e pelo medio pode resultar cansativa. Mas também não se rendam: virão acontecer coisas surpresivas que darão novo vigor ao relato.

 

Recomendo com encarecimento. Antom Labranha.


FARDA, FARDÃO, CAMISOLA DE DORMIR (JORGE AMADO)

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-Foi lido no clube da Anxel Casal.  Comentários por Antom Labranha-

Aquando vi o título deste livro teve a impressão que tinha pegado em coisa humorística. Nem sempre tudo é o que parece.

São tempos de apogeu do nazismo, o Hitler está no topo da sua fama. Além dos avances das suas Divisões compre termos conta dos avances da ideologia  que o Führer  encarna, que ultrapassa o Atlântico e chega mesmo ao Brasil.

É nessa que o poeta Antônio Bruno, membro da Academia Brasileira e que mora na França,  vai embora da vida enfartado por causa da queda de Paris sob a invasão das tropas alemãs. Ás voltas da desejada Cadeira do académico que fica, por tanto, vaga, o autor tece um romance  todavia não isento de humor mas  de intriga, crítica social ao Estado Novo e  luta clandestina pela libertação. Uma história de emaranhamento de interesses – espúrios uns, legítimos outros- passionais por ambição material, intelectual, glamourosa  ou mesmo de autêntico amor.

Achei, embora seja uma obra de meados do S. XX, a  estrutura bastante moderna: a sequência dos fatos  é predominantemente linear, embora joga à vontade cos tempos, antecipando personagens ou ações… que resolve surpreendentemente por duas vezes (O quê?  Sim, têm lido bem, por duas vezes).

A maneira de contar é  mesmo engraçada, suave, doce, insinuante  e irônica. Contudo pode resultar um bocado reiterativa, com hipóteses de chegar a ser maçador, pois descreve em pormenor os lances que acontecem entre os candidatos á Cadeira e os académicos que devêm eleger, mediados todos pelos respectivos  padrinhos. E é que são muitos e parecidos.

Como contributo à construção das personagens intercala episódios que podem distrair um bocado do tema central, tema que o próprio autor declara a jeito de introdução e do qual, pessoalmente, discordo até o ponto de concluir que o romance seria muito bem intitulado com uma das frases que mais decoram o texto: Canto de Amor para uma Cidade Ocupada, título do poema que converte o finado poeta no elíptico protagonista da história que nos é contada e que, desse jeito integraria muito bem os diferentes episódios.


Pontuação das leituras feitas.

Desde o Clube de leitura da Ánxel Casal acrescentamos aqui os títulos que lemos este ano com a pontuação feita sobre 10 que lhe demos a cada um deles:

A chuva pasmada, de Mia Couto. 6,9.
O testamento do Sr.Napumoceno, de Germano Almeida. 6,8.
Contos da Montanha, de Miguel Torga. 8,6.
Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira. 6,2.
Quem me dera ser onda, de Manuel Rui. 6,5.
Materna doçura, de Possidónio Cachapa. 5.