Relato de um certo oriente
Depois de termos falado um bocado sobre como decorreram as férias de verão, era a vez de debatermos sobre o livro, mas os participantes da sessão do clube de leitura do sábado 26 de setembro não estávamos com vontade. Sou da opinião de que as pessoas eram reticentes em falar sobre o livro por acharem a história pouco interessante. Para algumas foi mesmo difícil ler e finalizar. Embora escrito numa espécie de exercício de ginástica literária, utilizando numerosos recursos narrativos, o que se passou com este Relato de um certo oriente foi que não cativou a imaginação dos leitores.
Houve críticas sisudas por parte dalgum integrante do clube, que diz que não faz sentido colocar a captatio benevolentiae no final do livro, ou que, sendo o relato a soma de pontos de visa de várias personagens, não parece muito acertado todas elas se exprimirem da mesma maneira e utilizarem o mesmo vocabulário.
Ainda por cima, no romance existe uma espécie de obsessão por manter o leitor confuso e sem informação. Além da protagonista, a Emilie, nem todas as personagens estão bem definidas. Não conhecemos muito da pessoa que fala em primeiro lugar, nem do irmão dela. Também não da mãe deles. A árvore genealógica da família é confusa. Há dúvidas sobre quem é que escreve em cada capítulo, e não se percebem muito bem algumas histórias, como a do arbusto humano no meio duma praça de Manaus a receber insultos e pancadas da multidão. Será que algumas histórias só existem na imaginação de uma mente enferma? Poucas coisas ficam esclarecidas. Não faz mal se o livro não informa profusamente sobre todos os pormenores, mas qual é o alvo desta desinformação? Não sabemos muito bem que pretendia o autor.
Há quem diga que é melhor vermos o filme que os alunos de literatura brasileira do Colégio Centenário de Santa Maria/RS fizeram sobre o relato e publicaram no Youtube
Ou se calhar, melhor do ponto de vista artístico, este outro:
Contudo, embora a opinião geral tenha sido negativa, é verdade que houve quem gostou de aspetos do livro, como a engraçada história da briga iconoclasta entre a protagonista e o marido dela, as exuberantes descrições cheias de palavras exóticas, os temas da aculturação, ou o mundo dos migrantes vindos do Líbano para o Brasil. Mas principalmente, ao lermos o livro percebemos uma ostentação intelectual por parte do autor, na complexa estrutura do relato e nos recursos narrativos utilizados. Se calhar é por isso que esta obra tem boas críticas dos especialistas e recebeu prémios. A história fica em um segundo plano e o importante passa a ser a própria forma da narração. Para quem gostar da análise formal, na Internet há fantásticas notas explicativas (que eu não vou fazer melhor), como por exemplo:
Milton Hatoum
Mas o nosso particular painel de peritos carimbou, com a baixa nota média obtida (4,5), o chumbo da tentativa do senhor Hatoum. Achamos este exercício de ginástica de uma dificuldade extremamente alta, mas infelizmente a execução falhou.
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