Pega no livro

Clubes de leitura da Galiza com algum livro em português


A lúa da colleita (Anxos Sumai)

luadacolleita

 

Título:

Velaquí unha novela da que a primeira cousa que nos sorprende é o título: a lúa da colleita vén sendo unha fase da lúa, o plenilunio, a lúa chea, asociada co fin do verán, finais de agosto, primeiros de setembro, cando a natureza está no seu mellor, dando os froitos tralos calores do verán, cando as mareas son máis pronunciadas, mareas vivas, e en terra todo frutifica e madura.

En varias partes do libro aparece a posible explicación do título: cando Bet esperta cunha deliciosa sensación de ter sido posuída, só se lle ocorre exclamar:“amence a lúa da colleita”.

Noutro momento, a medio camiño entre delirios e realidade, a protagonista di que quere brillar como “a lúa da colleita”.

 

Tempo:

O relato comeza nun verán dos anos 70, cando a protagonista aínda ía ó instituto e vivía os seus primeiros amores adolescentes. Remata en agosto do 92.

 

Lugar:

Pobo mariñeiro perto da desembocadura do Ulla, na ría de Arousa. Máis adiante, Madrid serve de fondo ás vivencias da protagonista.

 

Personaxes:

Nuria-Bet son a mesma persoa en diferentes momentos da vida. Ela mesma lémbrase a sí mesma como unha muller forte, pero iso era antes de aceptar a Bet como parte da súa vida.

Realidade ou soño?: Os soños son pesadelos ( nenos pendurados dun gancho , coma nunha carnicería). A mestura vai in crescendo ó longo do relato, de xeito que como lectores cústanos establecer límites entre o real e o onírico, entre a realidade obxetiva e a realidade vislumbrada entre delirios e alucinacións por parte da protagonista.

 

Doenza mental?:

A protagonista percibe sensacións auditivas, olfativas e visións que non se corresponden coa realidade: a muller do bañador, as manchas no apartamento , os recendos , presentía presenzas onde só había desorde. Todo parecía licuarse arredor. Moitas veces está paralizada polo terror, un terror irracional.

Todo se sucede nunha alternancia de soños e estados de vixilia.

Persoas que se van cruzando no seu camiño coma Happy dille “ Estás mal da cabeza ou que?”

Sempre esperta esgotada. Está obsesionada polo desexo de ser dona de si. Para apartarse de tanto malestar, nada até esgotarse. “ Nadou contra si mesma”.

Vía as cousas a través de hologramas: son como proxecións, como se puidese atravesar as cousas e iso prodúcelle unha desacougante sensación de irrealidade. Todo iso convertía nunha persoa irresponsable e desorganizada, con actitudes infantís. Pensa que a vida non pode ser iso, que un día espertaría. Non pode dicir que todo o

que a rodea é un tempo esférico, todo son hologramas e voces. Non o quere dicir para que non se diga que “está mal da cabeza”.

Atérralle lembrar cousas que non sabe se ocorreron.

Teme as olladas das persoas , por se a miran con desprezo, porque tal vez adiviñen os seus pensamentos.

Padece de insomnio. A muller do bañador aparéceselle por todas partes. Como ten medo, non quere saír da casa. É unha prisioneira no seu propio apartamento. Ve cousas estrañas nos espellos. Todo está nun absoluto desorde. Todo o que quería era “ “ser libre sen límites” e mais “ vivir sen tantas voces na cabeza”.

 

Imaxes literarias:

dunha extraordinaria beleza: “Tiña medo de desfacerse en grans de millo polo universo”. A cadea de prata que lle regalara un amigo obraba coma “ un dique de contención”.

Para explicar un brote na súa enfermidade, a autora describe así o estado mental da protagonista: Sente unha “vertixe coma se estalasen todas as esferas e arrastrasen os hologramas.” “O tempo debullouse coma unha mazaroca. Os hologramas voaron polo aire. Oía voces tan fortes que lle ferían os tímpanos. O mar voaba e o ceo era mar. O peor eran os olores, o da pega que podrecera no balcón”.

 

Conclusión:

Se en máis dunha entrevista, a autora, Anxos Sumai, di que non quere que se vexa unha enfermidade mental no caso da protagonista, é a súa opción como escritora, pero a nós como lectores sempre nos queda a posibilidade de ver na historia que nos relata, un xeito magnífico, e tremendamente cru, de analizar o que desde fóra parece unha esquizofrenia, con todas as reservas que nos dá non ser nada expertos na materia.

 

 


Requiem (Tabucchi)

requiem

 

Uma beleza de história que parece produto duma ensonhação, uma história abensonhada, como diria Mia Couto. Isto não quer dizer que seja uma fantasia ao estilo da ficção científica, nem de seres irreais tipo o senhor dos anéis.

Verdadeiramente é um conto muito real, um passeio por Lisboa num dia caloroso no que relata experiências cotidianas.

O único motivo fantástico é que o dia desenvolve-se na procura dum poeta morto ao que no final dá atopado e que os membros mais cultivados do clube identificaram com o Pessoa.

A minha sensação foi que o Tabucchi passeou um dia desses nos que aperta o sol e que lhe afetou á cabeça. De feito é recorrente no livro a referência ao suor.

Comenta o próprio Tabucchi que este romance foi escrito diretamente em língua portuguesa:

“Se alguém me perguntasse por que é que esta história foi escrita em português …” “seja como for, percebi que não podia escrever um Requiem na minha língua e que precisava de uma língua diferente, uma língua q fosse um lugar de afeto e de reflexão”.

E eu acrescento que alucino e admiro como se podem escrever maravilhas na língua materna e de novo maravilhas na língua aprendida.

Também hei de comentar que não tivemos unanimidade e houve quem não gostou da obra, ainda que a pontuação meia obtida foi de 7.5.


CONTOS COMPLETOS de Fernando Pessoa

(Leitura proposta para lerem os membros dos clubes de leitura da federação Pega-no-livro, junto com «Alma» de Manuel alegre)

 Contos Completos

Contos Completos

de Fernando Pessoa

Edição/reimpressão: 2012

Páginas: 180

Editor: Antígona

ISBN: 9789726082231

O livro compõe-se de dois grupos de relatos do autor e mais três contos de um escritor norteamericano O. Henry traduzidos por Pessoa. Inclui-se também uma peza teatral que ele denomina de «Drama Estático» por razões explicadas pelo próprio autor em um excerto que figura na introdução.

Esta introdução, da autoria de Zetho Cunha Gonçalves, descreve um por um os textos que vão ser lidos posteriormente pelo leitor que optar por seguir a orde afixada pela numeração das páginas, a qual não foi seguida por quem assina este papel, que preferiu deixar o estudo preliminar para o final. Este modo de agir tem por albo não permitir condicionamentos alheios para o afrontamento das narrações.

O primeiro grupo, que contêm seis contos, foi baptizado pelo Pessoa como «Contos & Crónicas Decorativas». Nos dois primeiros trata sobre a não existência de dois países quase míticos naquela altura como eram o Jápão e Pérsia. Na primeira das crónicas decorativas afirma que o primeiro não existe (apenas nas peças de louça); na segunda lamenta a notícia do recente descobrimento de que Pérsia, contra toda evidência anterior, existe realmente. E este nefasto achádego é devido aos cientistas, contra os que deveria criar-se uma Liga Anticientífica. (Porém Pessoa, melhor dito, Álvaro de Campos, escreveu noutro lugar «o binómio de Newton e tão belo como a Vénus de Milo»). O terceiro é uma fábula singular, pois carece de moralidade, e o quarto é o famoso «O Banqueiro anarquista» em que o discurso é um percurso ideológico comandado por uma lógica estrafalária que, no entanto, enlaça com esperteza uns e outros silogismos para aterrar nas conclussões mais esquisitas. Quem leia este relato deve ter em conta a auto-descrição ideológica do poeta:

Liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário. Partidário de um nacionalismo mítico, de onde seja abolida toda infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo houve alguma vez espiritualidade.

São divertidos por paradoxais, os três últimos do grupo: «Um Grande Português ou A Origem do Conto do Vigário», «O Automóvel ia Desaparecendo» e «A Varina e a Lógica». Já agora, o segundo deles foi um encargo publicitário para a firma de pinturas BERRYLOID.

O segundo grupo «Fábulas para as nações jovens» está conformado por seis contos bastante curtos em que resplandece a fina ironia e a causticidade levada em casos a extremos pouco habituais. Um deles, escrito em Janeiro de 1931: «Eu o doutor», parece ter sido pensado para responder à ascensão ao poder do Doutor Oliveira Salazar, que nesse mesmo ano ganhou a presidência do conselho de Ministros e impulsionou a elaboração de uma nova constituição (que sumiu o país em mais de 40 anos de ditadura).

Os três contos que vêm depois, são traduções de outros tantos do escritor americano William Sidney Porter, escritos na Penitenciaria Federal de Ohio baixo o seudónimo de O. Henry, inspirado pelo capitão dos guardas prissonais Orrin Henry. Di-se na introdução que:

Pessoa apossa-se do texto alheio, dando-o, em tradução portuguesa, quase como que heterónimo e, ao mesmo tempo, ortónimo, e seu. Ou seja, ao servir-se do texto original para atingir um ponto de chegada que seja a criação de um texto análogo, esse texto não deixa nunca de estar impregnado da sua indelével marca pessoal e da clarividência do seu génio.

Este autor teve um grande sucesso na época em que publicou os relatos em revistas aonde eram enviados clandestinamente por médio de uma irmã de um companheiro de prisão. A crítica do seu país não lhe foi favorável, considerando-o um pequeno imitador do grande Poe, mas em Europa, o escritor francófono suíço Blaise Cendrars e o português Pessoa, o têm entre os seus escritores favoritos. E perante a leitura de estes três contos pode-se compreender o porquê.

O livro inclui finalmente o conto dramatizado «O Marinheiro» com o subtítulo «Drama estático em um quadro» que segundo o Zetho Cunha Gonçalves é o centro inaugural do teatro e a prosa do absurdo de Beckett ou Ionesco. O sentido do humor do Pessoa manifesta-se neste poema do seu heterónimo Álvaro de Campos:

Depois de doze minutos

Do seu drama O Marinheiro

Em que os mais ágeis e astutos

Se sentem com sono e brutos,

E de sentido nem cheiro

Diz uma das veladoras

Com langorosa magia:

Do eterno e belo há apenas o sonho. Porque estamos nós falando ainda?

Ora isso mesmo é que eu ia

Perguntar a essas senhoras…

Carlos Campoy, do clube «santengracia»