Eis o trabalho da Sandra, do clube «santengracia» de Compostela, a respeito do livro que estivemos a ler durante o Verão. Tivemos a nossa reunião no 5 de Outubro (quanta nostalgia do São Froilám da minha infância…) e lá platicamos sobre o livro a Olalla, a Júlia, o João, o Antão, uma nova incorporação, a Montse Dopico e eu; mas foi a Sandra, quando nos leu o trabalho a seguir, quem acertou com as claves do romance e todos concordamos com o seu depoimento.
No clube somos mais, no entanto problemas de saúde e trabalho impediram a assistência de muitas amigas. Para os tempos de Inverno decidimos a leitura do romance de Rui Cardoso Martins «E se eu gostasse muito de morrer» que nos tinha recomendado a Antia Cortizas que também anda pela Pega.
Carlos Campoy
O APOCALIPSE DOS TRABALHADORES (Valter Hugo Mae)
A obra intitulada O apocalipse dos trabalhadores ocupa-se da existência de Maria da Graça e dos acontecimentos que a esta lhe ocorrem. Em volta da protagonista há uma série de personagens sobre os que também conhecemos os seus medos, preocupações e acontecimentos. Entre os personagens a que nos refirimos, a Quitéria ocupa um lugar principal, com ela a Maria da Graça mantém uma relação de amizade. Ambas as duas partilham trabalhos, pensamentos, problemas …
No espaço literário conhecido como Bragança, Maria da Graça e a sua amiga Quitéria são duas mulheres que procedem duma classe social baixa, as duas trabalham como mulheres-a-dias e também tiram dinheiro quando as chamam para chorar mortos. Trabalhos e uma vida sentimental complexa mesturam-se nas suas vidas intensamente, facto que provoca na Maria da Graça grande dor e mesmo trastorno.
No trabalho como carpideira a personagem principal encontra o sufrimento que provoca ver um morto e também uma recompensação económica muito importante já que não tem suficiente dinheiro para viver. Aliás no trabalho como mulher-a-dias que tem, ademais de limpar, mantém relações sexuais com o dono da casa.
Amor concebido como sexo ou admiração pelo homem e o trabalho são obrigações que a Maria da Graça deve cumprir tanto com o seu marido (chamado o augusto) e com o senhor Ferreira que é o dono da casa que deve limpar, chamado simbolicamente o maldito. O amor é na vida da protagonista uma subimissão e obidiência ao homem porque ele é quem tem o poder tanto cultural e económico em caso do senhor Ferreira e moral no caso do augusto.
É o senhor Ferreira o que é visto como um homem a quem há que obedecer mas também é um personagem que provoca uma grande admiração. A morte dele provoca ainda mais dor na protagonista e também outros sentimentos como a saudade e raiva. Á raiz da morte do maldito a protagonista chega a bater na Etelvina, mulher que acode a visitar um morto.
Desde que morreu o senhor Ferreira a protagonista segue um caminho orientado à autodestruição, mesmo chega a contar ao seu marido o engano e pensa em matá-lo. O suicídio acaba por ser a saída para uma vida em que se anulou uma estabililidade na qual o senhor Ferreira é chave, mas também é saída para uma vida cheia de dor.
É interessante fazer menção a outras personagens femininas, a Quitéria, a quem chegamos a referir-nos porque conleva sempre momentos de paz para a protagonista. A Quitéria apesar de ter em comum com a Maria da Graça uma relação com os homens só de tipo sexual, mas chega um momento em que ten sentimentos mais profundos por um imigrante ucraniano chamado o Andriy. Embora tenha um amor complicado pela diferença de idade, ambos chegam a amar-se.
Outras personagens femininas como Ekaterina, Etelvina ou Glória caracterizam-se por participar desta atmosfera de tristeza na qual morte e amor sempre são vistos de forma problemática. Como outras personagens femininas Ekaterina vive um amor desgraçado devido a que seu marido, pai do Andriy, tem escassa cordura. O papel desta mulher como no caso de M. Da Graça é o de cuidadora de um homem com problemas psíquicos.
Face a estas personagens femininas os homens são vistos como personagens que produzem dor aos que convivem com eles e também são caracterizados pelas suas doenças e manias. No fundo sao também personagens desgraçados, mas a sua pena é tratada menos pormenorizadamente. Exemplo disto é o Sasha que tem alucinações e chega a bater na Ekaterina, sua mulher, o senhor Ferreira tem um passado tormentoso e a sua doméstica ajuda-o. O Andriy que é um imigrante escassamente remunerado, com problemas porque a sua família está longe e a sua amante chega a ajudá-lo, se calhar como se fosse o seu próprio filho.
Sandra Freire Nimo